Brasil tem quantidade insuficiente de médicos para atender à população

Apesar do número alto de candidatos para a área, diversos fatores dificultam a entrada de novos médicos no mercado

Ao lado de enfermeiros, socorristas e outros profissionais da área da saúde, os médicos são trabalhadores essenciais para cuidar do bem-estar dos brasileiros. Esse trabalho de cuidado com o próximo não é conquistado de forma simples, já que a profissionalização na área exige anos de muito estudo e dedicação, realização da residência médica e, claro, saber ter carinho e atenção com os pacientes.

Entretanto, um estudo recente feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) mostrou que essa é uma área atualmente deficitária no país. Isso porque, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o recomendado é que se tenha 3,5 médicos para cada mil habitantes. Contudo, no Brasil, o estudo mostra que essa média é de 2,8 médicos para cada mil habitantes.

A situação é ainda mais agravante quando isso é comparado com países desenvolvidos economicamente, nos quais a média é de 4,5 médicos para cada mil habitantes. Dentro desse panorama, a pesquisa da ABMES procurou identificar porque há dificuldades no país em ter mais médicos e quais são os principais problemas na área da saúde.

Os dados do levantamento mostram que essa limitação ocorre, em parte, pelo número limitado de graduados e o “alto envelhecimento dos profissionais”. Os dados mostram que 21,6% dos profissionais são idosos e que pelo menos 36%, mais de um terço, têm 50 anos ou mais.

Desejo esbarra no valor da mensalidade

Segundo dados da ABMES, a falta de médicos não é um problema causado pela falta de interessados. Pelo contrário: a demanda para o curso de medicina é “alta” no país, sendo um dos cursos superiores mais visados nas universidades públicas e privadas do Brasil.

Isso é confirmado pelo estudo feito pela Associação, que mostrou que em 2020, por exemplo, 1.067.303 pessoas se inscreveram para vestibulares na área. Entretanto, apenas 5% ingressaram no ensino superior, com mais de 1 milhão de candidatos ficando de fora.

De acordo com o ABMES, essas estatísticas levam em conta tanto instituições públicas quanto privadas. Outro fator é que o mesmo aluno pode se candidatar para múltiplas vagas espalhadas pelo país, o que faz com que ele seja contabilizado mais de uma vez.

Entre os motivos que justificam a discrepância entre o número de candidatos e o número total de médicos, é possível citar o número de vagas disponíveis e o nível de exigência das provas. O nível dos concorrentes e a falta de financiamento também são motivos importantes, sendo que, segundo a pesquisa, apenas 2% dos jovens entre 18 e 24 anos que estão matriculados têm condições de arcar com uma mensalidade de R$ 2 mil mensais para formação.

Desigualdades regionais

Outra questão que amplia a dimensão desse problema é a distribuição dos profissionais de medicina pelo Brasil. Essa distribuição, segundo o estudo, é bastante desigual, havendo maior concentração de profissionais na região Sudeste. Como consequência, há falta de médicos nas regiões Nordeste e Norte do país.

Isso também fica claro ao olhar a distribuição pelo tamanho das cidades. De um modo geral, 48 municípios que têm mais de 500 mil habitantes abrigam 62,42% de todos os médicos brasileiros — ou seja, a cada 5 profissionais, pelo menos três estão nesses locais. Em contraste, 94,18% das cidades brasileiras com até 100 mil habitantes têm acesso a somente 14% do total de profissionais. Felizmente, a tendência é que isso seja revertido nos próximos anos, já que há um aumento contínuo na quantidade de profissionais dessa área. Em 2020, o número de médicos no Brasil era de 521,4 mil, sendo que, segundo a pesquisa da ABMES, esse valor deve chegar a 594,9 mil em 2023 — um aumento de mais de 13%.